Quem visita a cidade pela primeira vez, logo percebe: há uma brisa quase constante que dança entre os enormes arranha-céus, ondulando bandeiras e enchendo as velas dos barcos no lago Michigan.
Não é à toa que Chicago carrega o apelido mundialmente famoso de “The Windy City” – a Cidade dos Ventos. Mas a origem desse título é tão complexa quanto a própria história da cidade. Seria por causa do clima, de uma rivalidade histórica ou pura bravata? Talvez seja um pouco de cada, como vamos ver a seguir.
O fenômeno meteorológico: A física do vento em Chicago
Antes de qualquer coisa, é necessário considerar a geografia única sobre a qual Chicago foi construída. A cidade se estende ao longo da costa sudoeste do vasto Lago Michigan, um dos maiores corpos de água doce do mundo. Este detalhe topográfico é o principal motor do vento que a cidade experimenta.
O efeito é explicado pela diferença de pressão e temperatura entre a terra e a água. Durante o dia, especialmente na primavera e no início do verão, a superfície terrestre se aquece muito mais rapidamente do que a água do lago. O ar sobre a terra expande-se e sobe, criando uma área de baixa pressão. O ar mais frio e denso sobre o lago então se move rapidamente para o interior para preencher esse vácuo, resultando em uma brisa constante e, por vezes, intensa que sopra do lago para a terra.
No inverno, o processo pode se inverter, mas o efeito de funilamento causado pela disposição dos arranha-céus do centro intensifica ainda mais os ventos. Os corredores formados pelos edifícios altos canalisam o vento, acelerando sua velocidade e criando aqueles famosos “corredores de vento” onde é literalmente difícil permanecer de pé em um dia de temperaturas baixas. Portanto, sim, Chicago é, de fato, uma cidade bastante ventosa. Dados meteorológicos consistentemente a colocam entre as principais cidades dos EUA em termos de velocidade média do vento, embora longe de ser a cammpeã – título que muitas vezes pertence a cidades como Dodge City no Kansas ou Amarillo no Texas.
A rivalidade que gerou um mito
Aqui é onde a história fica ainda mais interessante. A explicação meteorológica, embora verdadeira, não é a fonte original do apelido. A maioria dos historiadores credita a popularização de “The Windy City” a uma feroz rivalidade do final do século XIX, não com o clima, mas com outra cidade americana: Cincinnati.
Na década de 1890, ambas as cidades disputavam fervorosamente o título de principal centro econômico e industrial do Midwest. Cincinnati, grande produtor de carne suína, foi superada por Chicago, com seus gigantescos matadouros.
A virada decisiva na batalha de egos veio com a escolha da sede para a Exposição Mundial Colombiana de 1893, uma feira mundial que colocaria qualquer cidade no mapa global. Chicago e Nova York eram as finalistas. A imprensa nova-iorina, desdenhosa da candidatura de Chicago, usou seus editoriais para zombar dos representantes da cidade do Midwest, chamando-os de “cheios de vento” – windy – insinuando que eles eram cheios de promessas vazias e grandiosas que nunca poderiam cumprir.
Contra todas as expectativas, Chicago venceu e, mais impressionante ainda, construiu a feira monumental no prazo recorde de dois anos, deslumbrando o mundo com arquitetura inovadora e a primeira Roda Gigante. A cidade não apenas provou que podia cumprir suas “promessas cheias de vento”, mas abraçou com ironia e orgulho o apelido que lhe foi dado como insulto. “The Windy City” tornou-se um símbolo de sua capacidade de superar expectativas e calar os críticos.
Vento na cultura popular: O apelido que pegou
O apelido, com sua dupla camada de significado, foi perfeito para se enraizar na cultura popular. Jornalistas esportivos, particularmente, adotaram a expressão ano início do século XX. Escritores cobrindo os Cubs no baseball ou os Bears no futebol americano frequentemente se referiam aos ventos gelados que varriam os estádios, solidificando a imagem nacional de Chicago como um lugar onde o vento era uma personagem constante no drama da vida urbana.
A ascensão de Chicago como um centro de jazz e blues também ajudou. Músicas como “Windy” do grupo The Association (embora não seja sobre a cidade) e inúmeras referências em letras de blues associaram ainda mais o nome à identidade cultural da cidade. Tornou-se uma marca, um símbolo de resiliência diante dos elementos e dos desafios.
Chicago versus o mundo desmistificando a lenda
É um mito persistente que Chicago é a cidade mais ventosa dos Estados Unidos. Como mencionado, ela perde para várias outras em medições meteorológicas absolutas. O apelido, portanto, é muito mais cultural e histórico do que estritamente científico.
A genialidade do título “The Windy City” está precisamente nessa ambiguidade. Ele captura perfeitamente:
*A realidade climática de uma cidade à beira de um grande lago.
*O espírito resiliente e ambicioso de seu povo, que transformou um insulto em um emblema de orgulho.
*Uma página de sua história de rivalidade e triunfo.
Se você se interessa pela história por trás dos apelidos de Chicago, não pode perder nosso artigo exclusivo sobre o Tour da Máfia em Chicago, que desvenda as origens de outra faceta icônica da cidade.


